ROMANCE
Bom dia, boa tarde, boa noite, conforme a ocasião!
Todo mundo teve um primeiro amor ou tem uma história romântica sobre um primeiro contato para contar. Comigo aconteceu lá no principado do Humaitá de Cima, no colégio, na 8ª série, quando ainda nem tinha 9º ano.
Era sempre na hora do recreio que eu a via, cabelos longos, escuros, sempre bem penteados, sentada na escadaria que dava acesso ao pátio interno, quase sempre sozinha, com um caderno ou livro na mão, lendo ou rabiscando alguma coisa e, de vez em quando, esboçando um sorriso doce, acompanhado de um olhar ao longe.
Eu, tímido, só admirava de longe, a minha primeira paixão.
Um dia uma professora fez um sorteio para dividir a turma em duplas para fazer um trabalho e para minha alegria e susto, a minha paixão secreta foi sorteada para sentar comigo. Ali ficamos todo o restante da aula e eu pude ouvir de perto a sua voz, sentir o seu cheiro, enfim, trocar algumas palavras com ela.
Daquele dia em diante comecei a me aproximar um pouco mais daquela linda morena. Durante o recreio ela passou a não trazer mais o caderninho, a não ler e não rabiscar mais nada e aquele olhar ao longe, agora era para me procurar, para me ver chegando e ficarmos aqueles 15 minutos conversando sem parar, num clima de romance cada vez maior.
Não demorou para eu acompanha-la até sua casa algumas vezes ao final das aulas, não demorou para pegar em sua mão, não demorou para que os colegas desconfiassem e denunciassem nossa relação com a famosa cantiga “tá namorando, tá namorando”. Parece que estávamos mesmo, sem nenhum dos dois admitir.
Apenas dois meses se passaram, chegou o final do ano, mas antes mesmo da formatura do ensino fundamental ela me deu a triste notícia: o pai tinha sido transferido no banco onde trabalhava, para uma agência no interior do Paraná e ela ia se mudar, interrompendo a nossa curta, mas já forte história. Nos despedimos ali mesmo, numa sexta-feira, no fim da tarde, atrás do colégio, com o nosso primeiro beijo.
Numa época sem celular e sem internet, perdemos totalmente o contato um com o outro, após sua partida. O tempo passou e eu sofri calado, não deu pra tirar ela do pensamento.
Numa certa ocasião, alguns anos depois, cheguei em casa e havia na caixa do correio um convite dela endereçado a mim. Com letras douradas, num papel bonito, chorei de emoção, quando acabei de ler, num cantinho rabiscado no verso, ela disse: meu amor, eu confesso...
O resto vocês já sabem.